Caros amigos,
É, para mim, uma enorme honra receber o Prémio Universidade de Coimbra, quase seis anos depois de ter tido o privilégio de receber o grau de Doutor Honoris Causa.
Ao contrário do que sucedeu há seis anos, em que estive presente na imponente Sala dos Capelos, hoje não posso, infelizmente, comparecer fisicamente na cerimónia de atribuição do Prémio.
Mas agradeço, comovido, a distinção que a Universidade de Coimbra de novo me confere. Sei que ao fazê-lo, a Universidade e o júri do Prémio visam homenagear, também, as Nações Unidas, o que muito me apraz registar.
E é com o maior gosto que me associo, neste dia 1 de março, às comemorações dos 732 anos da Universidade de Coimbra – uma das mais ilustres instituições nacionais e um exemplo, provavelmente único no nosso País, de combinação de tradição com inovação e de história com futuro.
Sempre à frente do seu tempo, prestou ao longo da história um serviço essencial a Portugal e continua a contribuir para a visibilidade do nosso país, na Europa e em todo o mundo.
Hoje, a marca de excelência da Universidade de Coimbra revela-se, também, no seu compromisso para com a Agenda 2030, sendo reconhecida internacionalmente pelos esforços em alcançar todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Os resultados atingidos neste âmbito fazem da Universidade de Coimbra a 21ª universidade mais sustentável do mundo.
Saúdo, também, vivamente o empenho para com a meta da neutralidade carbónica até 2030.
Por sua vez, a iniciativa Challenges for Global Sustainability reveste-se de inegável mérito na divulgação dos objetivos de desenvolvimento sustentável junto de estudantes desde o ensino secundário, não só em Portugal mas também no Brasil.
Este espírito e este compromisso são hoje mais necessários do que nunca, num momento em que enfrentamos uma combinação sem precedentes de enormes desafios.
Com efeito, a pandemia da covid-19 continua a afetar as nossas vidas e as nossas sociedades.
A crise climática, a poluição e a perda de biodiversidade agravam-se.
As desigualdades aumentam.
O mundo vê-se assolado por conflitos cruéis e tensões geopolíticas acentuadas.
Milhões de pessoas são forçadas a deixar as suas casas.
A desconfiança entre as potências mundiais atinge o seu clímax.
A confiança entre pessoas e instituições deteriora-se.
A verdade é posta em causa.
Entidades sem escrúpulos aproveitam-se do caos do espaço digital.
Teorias da conspiração, desinformação e ódio fomentam clivagens sociais e a polarização.
No fundo, estes problemas ilustram a necessidade urgente de reinventar a cooperação e a governação a nível mundial, para que as nossas aspirações comuns – de paz, desenvolvimento sustentável, direitos humanos e dignidade para todos – continuem ao nosso alcance.
O relatório “A Nossa Agenda Comum”, que recentemente apresentei, pretende dar um contributo significativo para este debate e para esta busca de soluções para que possamos enfrentar os desafios com que nos deparamos com coragem e solidariedade e com a participação plena da sociedade civil, do setor privado, das autoridades locais, da Academia, entre outros.
É um relatório que visa reforçar a Agenda 2030 com vista a uma melhoria efetiva da vida das pessoas, colocando as gerações futuras no centro dos nossos esforços.
Neste contexto, convocarei para setembro próximo, em Nova Iorque, uma Cimeira sobre a transformação da educação.
Mesmo antes da pandemia, os sistemas educativos convencionais enfrentavam já dificuldades para dotar os alunos do conhecimento e das competências necessárias para se afirmarem e prosperarem neste nosso mundo em rápida mudança.
O covid-19 provocou uma perturbação do ensino sem precedentes e agravou as desigualdades no acesso à educação.
Enquanto antigo docente sei bem como esta crise no ensino é prejudicial para os jovens.
E como traz, também, graves consequências para o futuro das nossas sociedades.
Sem sistemas educativos eficazes, não seremos capazes de responder às necessidades do mercado de trabalho, de promover os direitos humanos e a igualdade de género ou de fortalecer as instituições democráticas.
A Cimeira sobre a transformação da Educação é, portanto, uma primeira oportunidade para os líderes mundiais, os jovens e todos os interessados em educação, unirem esforços.
Representa uma oportunidade para reavivar o nosso compromisso coletivo para com a educação como um bem público primordial e uma fonte de progresso.
Basear-se-á numa perspetiva inovadora da educação, de maneira a que os alunos não apenas aprendam; mas aprendam a aprender, a pensar por si mesmos e a pôr a sua curiosidade ao serviço do bem comum.
Magnifico Reitor
Caros amigos
A educação é uma das missões mais nobres e importantes a que se pode aspirar.
Há mais de sete séculos que a Universidade de Coimbra honra esta missão reinventando-se constantemente para responder aos desafios do nosso país e do nosso mundo.
Estou convicto de que assim continuará a ser, numa época em que a dimensão dos desafios não tem precedente.
Bem hajam pela enorme honra que hoje me atribuem.
E feliz aniversário!