New York

23 April 2021

Mensagem vídeo para a Conferência TEDX Coimbra

António Guterres, Secretary-General

Watch the video here: https://s3.amazonaws.com/downloads2.unmultimedia.org/public/video/evergreen/MSG+SG+/MSG+SG+15+Apr+21/2612840_MSG+SG+TEDX+COIMBRA+15+APR+21.mp4

Caros estudantes:

Muito obrigado por este convite.

Agradeço a oportunidade de poder partilhar as minhas reflexões sobre alguns dos desafios globais que enfrentamos: a covid-19, as alterações climáticas, os problemas no ciberespaço e a cooperação internacional.

Vivemos num mundo de inquietude. Já assim era antes da pandemia.

Mas a covid-19 provocou, simultaneamente, uma emergência sanitária, um desastre económico e uma crise de direitos humanos.

As Nações Unidas têm feito todo o possível para apoiar os países e as populações mais vulneráveis do mundo.

Com o lançamento das vacinas, há agora uma luz ao fundo do túnel.

O mecanismo COVAX começou a distribuir vacinas em todo o mundo, incluindo em alguns dos países mais pobres.

No entanto, preocupa-me profundamente que muitos países ainda não tenham recebido uma única dose, enquanto os países mais ricos, em alguns casos, acumulam vacinas.

O mundo deve unir-se para multiplicar a capacidade de produção e garantir que todas as pessoas, em todos os lugares, sejam vacinadas o mais cedo possível.

A recuperação também deve abordar as desigualdades e as fragilidades que a pandemia tem vindo a evidenciar e que alimentam a instabilidade e o mal-estar social a nível mundial.

Esta recuperação deve incluir a ação climática e a proteção do meio ambiente.

Os investimentos feitos para a recuperação devem impulsionar as energias renováveis e criar empregos verdes.

Temos visto muitos atores políticos e do setor privado a comprometerem-se com o objetivo de alcançar emissões líquidas zero até 2050.

Esta coligação representa agora 65 por cento das emissões mundiais de dióxido de carbono.

Mas devemos alcançar os 90 por cento até à COP26 que terá lugar em novembro.

Os países do G20 devem liderar o caminho e apresentar planos climáticos nacionais mais ambiciosos.

É igualmente importante conseguir avançar com medidas de adaptação, que não podem ser o parente pobre da ação climática.

Os doadores e os bancos multilaterais de desenvolvimento devem aumentar a proporção do financiamento para a adaptação, no mínimo, de 20 para 50 por cento até 2024.

Para além disso, os países desenvolvidos devem cumprir com a promessa de mobilizar anualmente 100 mil milhões de dólares para os países em vias de desenvolvimento.

Um outro grande desafio é o ciberespaço.

A pandemia tem evidenciado tanto o grande poder das tecnologias digitais como a enorme desigualdade que existe no acesso a estas ferramentas.

Devemos assegurar que todas as pessoas de todo o mundo têm um acesso acessível, significativo e seguro à Internet até 2030.

Necessitamos reforçar a cibersegurança e lutar contra a propagação digital do ódio e da desinformação.

E devemos ter voz e voto no uso dos nossos dados.

Isto também se aplica à inteligência artificial. Os humanos devem manter o controlo sobre essas tecnologias.

Devemos reforçar a governação mundial numa área em que esta falta em grande medida.

Esta questão leva-me ao quarto desafio: a cooperação internacional.

As tensões geoestratégicas continuam a ser elevadas.

Não é possível resolver os nossos maiores problemas quando os maiores poderes estão em desacordo.

Necessitamos evitar uma grande fratura que dividiria o mundo em dois.

Embarcámos numa profunda reflexão sobre como revitalizar o multilateralismo e apresentarei as respetivas conclusões em setembro.

Necessitamos de um multilateralismo em rede, que inclua todas as organizações regionais e multilaterais, as instituições financeiras internacionais e os bancos de desenvolvimento.

E necessitamos de um multilateralismo inclusivo baseado numa interação profunda com a juventude, com as mulheres, as empresas, as autoridades locais, as instituições académicas e filantrópicas.

Todos devem ter um lugar na mesa.

Necessitamos das vossas ideias e energia para o conseguirmos fazer bem e construir um mundo mais sustentável, mais justo e igualitário.

Muito obrigado.